Resumo: O objetivo deste trabalho é buscar um entendimento do suicídio entre os índios Ticuna do Alto Solimões (AM), objeto de difícil aproximação, que aponta para a necessidade de uma abordagem interdisciplinar. Realiza-se uma avaliação crítica da utilização do conceito de anomia para a análise do suicídio indígena, na medida em que este não permite explicitar as relações de desigualdade na qual estão encravadas as supostas "inadaptações" das populações indígenas. A proposta encaminhada é de se trabalhar com um modelo que permita a percepção dos indivíduos como "atores" em cada "situação histórica", capazes de produzir mudanças na alocação de recursos e criação de novos arranjos políticos. A etnografia realizada preocupa-se em captar as vinculações entre os eventos de suicídio e violência desta última década, com a exacerbação dos confrontos entre diferentes grupos faccionais que atualizam, em outro contexto histórico, os mecanismos de resolução de conflitos próprios das antigas malocas. Na base desses confrontos está o abandono a que esta população tem sido submetida pelos órgãos responsáveis pela definição e implementação das políticas públicas para as populações indígenas, com especial destaque para a falência do modelo de assistência à saúde proposto para a área do Alto Solimões.
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