Resumo: Este estudo se propõe a discutir o fenômeno do adiamento da maternidade para após os 35 anos, relacionando-o ao processo de Destradicionalização Social, que vem ocorrendo em todas as esferas da vida cotidiana - inclusive, no contexto sócio-familiar brasileiro. Independente das transformações no ethos da maternidade, o discurso médico define, a partir do enfoque de risco, o que é "normal" e "anormal" nos comportamentos reprodutivos. Com base nestes pressupostos analisamos as percepções das mulheres que adiaram a maternidade, para depois dos 35 anos, em relação ao relacionamento afetivo-familiar, ao trabalho, a gravidez e à maternidade. Foram realizadas, no Ambulatório de Pré-Natal do Hospital Universitário Pedro Ernesto (entre julho e outubro/1998), nove entrevistas com gestantes entre 36 e 39 anos, não portadoras de doenças crônicas ou intercorrências físico-clínicas. Os resultados deste estudo, qualitativo, indicam que o processo modernizador e as conseqüentes mudanças nos tradicionais padrões familiares, imprimem suas marcas na experiência da maternidade. Essa revisão de valores, referentes à função feminina e ao papel materno acompanha a incorporação da mulher ao mercado de trabalho e o crescente peso do capital escolar. Tornou-se possível concluir ainda, que em função dos valores atuais, o "ser mãe" para algumas mulheres não é mais percebido como o único objetivo, já que o trabalho é fonte de realização pessoal.
Palavras-chave: PROCESSO MODERNIZADOR; DESTRADICIONALIZAÇÃO SOCIAL; ADIAMENTO DA MATERNIDADE; ALTO RISCO GESTACIONAL; DISCURSO MÉDICO-NORMATIVO |